Censura na Internet dos EUA – Prostitutas em Risco

As Acompanhantes e um novo paradigma

Parece que muitas mulheres nos EUA estão em preparativos para a morte ou para actos de extrema violência fisica que poderão vir a sofrer.

Ao que soubemos esses preparativos incluem a redação das suas próprias homilias que deverão ser lidas nas suas cerimónias fúnebres, bem como o envio de fotos das suas tatuagens aos seus amigos para fins de posterior identificação do corpo, entre outras tantas acções macabras. Mas afinal do que falamos?

A “Crazy Eyes”, nome de guerra usado por uma prostituta de alto nível nos EUA, tem dependido de sites de anúncios classificados nos EUA, tais como o Backpage.com e o Craigslist.com, para contactar potenciais clientes.

O problema é que o governo norte-americanos tem andado numa atitude prosecutória em relação ao sexo e liberdade de expressão, e acabou recentemente por deitar abaixo o Backpage.com (NSWF!), acabando por assim estourar com a fonte de rendimento das profissionais do sexo.

Ao fazê-lo acabou por colocar em risco muitas prostitutas, obrigando-as a ir para as ruas para arranjarem clientes e a depender novamente dos proxenetas.

Contactámos o Escortera – um Blog português especializado nestas matérias de Acompanhantes e eles ajudaram-nos a compreender os meandros do que se passou, se está a passar e eventualmente se irá passar com os serviços de divulgação de anúncios de prostituição na Internet.

“Já em Julho de 2016, meio ano antes de iniciar funções na casa branca, Trump tinha assinado a “The Children’s Internet Safety Presidential Pledge”, uma missiva de uma organização Anti-pornografia e já aí se adivinhava o que estaria para vir.

O receio de uma possível eleição de um governo republicano de Trump e os efeitos que teria para a indústria pornográfica nos EUA já faziam eco num debate entre um painel de juristas das principais produtoras porno na AVN de 2016 em Janeiro de 2016.

É portanto mais do que natural que a seguir à perseguição dos sites de anúncios de acompanhantes, o governo Trump prossiga a sua senda e aponte cargas à simples pornografia.” comenta o Escortera.com, num artigo recente sobre o fecho do Backpage.com e as suas consequências para a indústria.

A “Crazy Eyes”, acompanhante de luxo há mais de 10 anos, já começou a sentir na pele os efeitos nefastos de tal deriva e é peremptória ao afirmar que está a começar a passar por dificuldades. Como ela estão muitas outras acompanhantes anteriormente habituadas a trabalhar a partir do conforto de suas casas, com o recurso apenas às maravilhas da Internet e de um simples telemóvel.

“Eu e as outras miúdas estamos a ser forçadas a ir para a rua, os rendimentos baixaram e os riscos para nós e até para os clientes aumentaram exponencialmente. Os meus rendimentos e de outras são uma fracção do que eram há 2 semanas atrás”

Imagem do Backpage.com fechado por censura imposta pelo governo dos EUA

Imagem do Backpage.com fechado por censura imposta pelo governo dos EUA

A FOSTA-SESTA foram aprovadas

O Congresso norte-americano e o presidente Trump aprovaram recentemente uma legislação com apoio bipartidário que pretende combater o tráfico sexual on-line, tornando os sites responsáveis criminalmente pelo conteúdo dos utilizadores.

Mas alguns dizem que as Leis Online de Tráfico Sexual (FOSTA) e de Combate ao Tráfico Humano (SESTA) terão o efeito oposto. Os críticos argumentam que a legislação censura amplamente o discurso on-line, elimina os rendimentos das pessoas que se envolvem em trabalho sexual consensual e ajuda os agentes de tráfico humano a fugirem dos crimes perpetuados, empurrando todos para a indústria clandestina.

Emily Benavides, uma porta-voz do senador Rob Portman, patrocinador da SESTA-FOSTA, defendeu a nova lei num e-mail, dizendo que ela foi “um projecto de  lei muito trabalhado” e “que dá à polícia estadual as ferramentas necessárias para perseguir os criminosos que traficam mulheres e crianças on-line”.  

“Este projeto foi amplamente apoiado numa base bipartidária, e estamos orgulhosos de que ele se tenha tornado Lei nos EUA” comenta ela.

As opiniões das acompanhantes

“Sinto-me desvastada. Eles simplesmente tiraram-me tudo o que tinha. A minha vida mudou da noite para o dia e para bem pior…” conta num grupo do TheEroticReview.com uma trabalhadora do sexo que se dá a conhecer pelo nickname de “Sweet Caroline”

“Sweet Caroline” que mora na Califórnia nos EUA, conta que decidiu fazer trabalho sexual  para a ajudar a economizar dinheiro para a universidade e que esta nova lei a está a obrigar a ir para as ruas em busca de clientes. “Esta lei não faz mais nada do que colocar toda uma classe de trabalhadores em risco”

Grupos de direitos dos trabalhadores do sexo há muito que argumentam que estas iniciativas, que visam combater o tráfico de crianças, acabam sempre por prejudicar os trabalhadores mais marginalizados ao criminalizarem amplamente a indústria. Isso inclui as pessoas “Queer” e Transgéneros, os sem abrigo e outros que foram excluídos dos empregos tradicionais. Defensores do Backpage.com dizem que sites desse género deram aos trabalhadores sexuais o controle sobre os seus empregos e permitiram que as autoridades policiais detectassem e denunciassem os traficantes.

Quando “Crazy eyes” trabalhou nas ruas quando tinha apenas 20 anos, na altura enfrentar abusos da policia e dos clientes eram uma constante. Alguns homens exigiam sexo sem preservativo, quase a coagiam a ir ao limite dos seus limites, recusavam-se a pagar, agrediam-na verbalmente ou mesmo fisicamente, conta “Crazy eyes”, que pede para ser citada sempre sob o nome que usa nos anúncios e no activismo online.

“Eu realmente não quero ter que fazer isto”, diz ela, explicando que nos sites como o Backpage.com e também em quaisquer outros de classificados de sexo online (NSFW!), as acompanhantes e outras trabalhadoras do sexo podem negociar os termos e condições antecipadamente, podem solicitar que os clientes forneçam referências de boa conduta, e podem inclusive comunicar-se e trocar experiências com outras colegas no mesmo ramo de actividade, no sentido de saberem de antemão se determinado cliente teve condutas de abusos ou violência para com outras acompanhantes.

Outra mulher que se dá a conhecer nas redes sociais por “Sassy the one”, que está na casa dos 20 anos e que trabalha como acompanhante, disse que escolhe fazer trabalho sexual porque este proporciona-lhe uma renda sustentável. Sob esta nova lei, no entanto, ela poderia ser tratada como uma vítima de tráfico, mesmo que ela dissesse que não estava a ser coagida: “O trabalho sexual é o que me dá a capacidade de ganhar a vida e faço-o porque quero. Para mim funciona e de forma alguma estou a ser forçada a isso, quer fisicamente ou sequer psicológicamente.”

“Candy Curves”, uma californiana de 25 anos, conta no Twitter que já foi vítima de tráfico humano no passado e que foi forçada a fazer trabalho sexual. Mas “Candy Curves” é peremptória em dizer que não acredita que fechar os sites e prender as pessoas por prostituição ajudará vítimas como ela.

“Sinto-me incompreendida e impotente”, diz ela. “Penso nas mulheres que conheço e que agora estão, como eu, obrigadas a ir trabalhar para as ruas.”

“A aplicação da legislação no passado nunca me ajudou quando fui vítima, ao invés sempre me acusaram de prostituição e ofensas várias.”

“Como é que é possível que pensem que esta nova lei nos irá proteger? Como é que isto nos irá salvar?”

As associações também estão contra a nova lei

Kristen DiAngelo, directora executiva do Projeto de Trabalho dos Trabalhadores Sexuais de Sacramento nos EUA, conta num grupo de discussão no TheEroticReview que o seu telefone não pára de tocar desde que a nova missiva foi aprovada por Trump: “O medo é brutal”.

Ela conta exemplos de mulheres que foram forçadas a voltar a clientes abusivos e violentos devido às perdas de rendimentos. Conta ainda outros casos de mulheres que passaram a ter que recorrer a Proxenetas que têm influência sobre as mulheres e podem explorá-las.

“Esta nova lei está a criar um mercado real para os proxenetas e para todos os crimes de lenocínio”, comenta DiAngelo.  “As pessoas não sabem se vão conseguir pagar a renda das suas casas e mesmo se vão conseguir até comprar comida”.

“À conta desta nova lei, estas mulheres estão a passar de trabalhadoras totalmente independentes a pessoas totalmente dependentes das redes organizadas”

DiAngelo, num Tweet alarmante questiona ainda se este tipo de repressões podem eventualmente estender-se a organizações como a dela, organizações de defesa das prostitutas e que se concentram em iniciativas de redução de danos, como por exemplo a entrega gratuita de preservativos.

“Podem os promotores acusar-me de facilitar a prostituição no âmbito das acções da organização de defesa a que presido??

“Eles apenas estão a colocar no desemprego grandes quantidades de pessoas já de si marginalizadas”, “Estão a retirar recursos que estão a salvar vidas”

"Electronic Frontier Foundation" contra a SESTA-FOSTA, por uma Internet em prol da Liberdade de expressão

Tweet da “Electronic Frontier Foundation” contra a SESTA-FOSTA, por uma Internet em prol da Liberdade de expressão

Prostituição online em Portugal. Será efectada?

O Blog português Escortera que fala sobre o mercado das Acompanhantes online em Portugal, refere num dos seus últimos artigos que não prevê que o mercado nacional dos classificados e anúncios de prostituição online seja afectado.

“A SESTA / FOSTA, sendo uma normativa norte-americana, só se aplica a quem reside, vive ou desenvolve negócios para, com e nos EUA.

Os negócios, sites adultos, sites de acompanhantes, sites de webcams adultas, blogs pessoais e enfim, tudo o que sejam conteúdos de SEXO no seu geral e que estejam alojados FORA dos EUA ou que não tenham nenhuma implicação com os EUA, poderão nesta fase estar descansados. Estão a salvo.”

No entanto e porque a Internet está toda interligada, escrevem no seu artigo que haverá por certo implicações futuras para os sites Europeus e no resto do mundo, nomeadamente porque a Google é uma empresa norte-americana e porque os sites de convivio obtêm a maior parte dos visitantes daquele motor de pesquisa.

“Sendo que a maioria do tráfego dos sites adultos provém dos resultados de pesquisa orgânicos do Google, como será que o Google se irá comportar doravante ?

Irá bloquear os resultados dos sites de acompanhantes e classificados relax do seu motor de busca? Irá bloquear todo e qualquer site, incluindo os de pornografia ?”

São também da opinião que estas atitudes prosecutórias em relação à liberdade de expressão e regulação na Internet causarão mais dano do que vantagens. As próximas modas serão a migração de muitos sites Internet para os confins da Internet negra onde muitos dos crimes online são hoje em dia cometidos e onde é impossível existir policiamento.

“Pior ainda, será uma questão de meses para que surjam autênticas mega-operações criminosas de indole sexual dentro da DarkWeb. Não que já não existam, mas irão surgir cada vez mais sites descentralizados a que só se acede de forma encriptada e com clientes Web do tipo TOR e onde autênticas redes pedófilas e de prostituição infantil irão proliferar.

Nessa altura será impossível, por questões técnicas e de knowhow das forças policiais, deitar abaixo qualquer rede deste género. A luta contra a exploração sexual infantil e a luta contra o proxenetismo de maiores de idade estarão indelevelmente perdidas.”

Face a estas noticias que nos chegam vindas do Uncle Sam, muitas dúvidas persistem. Parece-nos que estamos em época de censura ao sexo e estas noticias fazem-nos lembrar a perseguição aos homossexuais, tópico anteriormente reportado aqui no blog da SaunApolo56.

Será que simples sites institucionais de práticas alternativas, tal como o da SaunApolo 56, serão as próximas vitimas? Será que simples blogs que falam de sexo ou promovem festas liberais de sexo consensual, poderão de alguma forma serem extrapolados como sendo venda de sexo?

E vocês caros leitores da SaunApolo 56, o que acham sobre este tema? Estaremos a caminhar para uma censura geral na Internet? Ou acham pelo contrário que este excesso de zelo é justificado pelo combate à pedofilia online que se urge combater?

Deixem-nos comentários a este assunto na caixa de comentários abaixo.

Agradecimentos:

Fontes Nacionais: Blog Escortera.com

Fontes Internacionais:  Grupos discussão TheEroticReview.com e diversas contas Twitter de Acompanhantes nos EUA.

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