Pedro escreve uma carta aberta, para todos os pais de filhos homossexuais

Tinha 18 anos quando a minha mãe descobriu. Encontrei-a a chorar no meu quarto onde encontrou uma foto minha com um namorado da altura. Fiquei de coração partido. Desde que tenho os meus 16 anos que a minha mãe me pergunta quando é que lhe apresento uma namorada. Várias vezes brincava que ela podia ficar lá em casa, que só gostava de a conhecer.

Era uma pessoa aberta pensei eu, nem todos tinham a sorte de as mães dizerem isto. Mas quando descobriu que a minha namorada afinal se chamava Manuel, a reacção foi exactamente a oposta.

Dizia que não acreditava porque é que isto lhe estava a acontecer e questionava-se sobre o que teria feito de errado. Que a culpa era do meu pai por nunca ter feito actividades masculinas comigo. Senti o meu mundo a cair por terra. Afinal de contas era a minha mãe. Imediatamente me disse para viver a vida como queria mas para não trazer essas coisas ali para casa. Como se de uma doença se tratasse. Disse que não queria dar esses exemplos ao meu irmão. Imaginem ter um namorado ou namorada mas nunca poderem contar aos vossos pais, nunca o poderem apresentar, levar a jantar lá a casa, ou sequer pedir um conselho. A partir do dia que lhe contei, nunca mais parou de dizer que não iria ter netos da minha parte.

Nem lhe passou pela cabeça que eu poderia querer filhos na mesma. A falta de apoio levou-me a um estado de depressão. Não posso negar que isso estragou um pouco a relação com a minha mãe. Chorei vários términos de namoro sozinho, passei por situações de bullying e calei-me. Nunca apresentei nenhum companheiro aos meus pais. O meu pai nunca comentou o que lhe contei. Preferiu ignorar o assunto.

Mas não quero que este seja um discurso derrotista pois eu venci. Mesmo sem apoio vivi a minha vida, ganhei independência e um dia disse à minha mãe que se me quisesse continuar a ver teria de aceitar o meu companheiro. Aos poucos aceitou. Mas aos pais que leem isto, por favor não vejam a sexualidade ou género dos vossos filhos como um defeito. Isso causará lesões profundas neles difíceis de ultrapassar. A sexualidade não se escolhe nem é uma doença. Não se vai pegar aos irmãos. Não foi culpa de ninguém.

É importante que qualquer jovem possa contar com o apoio dos pais. Que lhe possa contar alegremente que arranjou um namorado ou tristemente anunciar o fim de uma relação. Continua a ser importante discutir a sexualidade, aconselhar sobre os métodos de protecção.

Ter um filho é muito mais do que esperar dele um comportamento socialmente aceitável. É ama-lo sem limitações.

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