Pedro: um rapaz normal, como é que pode ser homossexual?

Pedro: um rapaz normal, como é que pode ser homossexual?

Ainda há quem pense que um homem homossexual tem de se vestir de cor de rosa, usar maquilhagem ou roupas de mulher. O homem homossexual quer terá de ser vaidoso, falar com a voz efeminada, partilhando gostos femininos. A verdade não é essa. Pedro, um homem de 35 anos, conta a sua história através de uma viagem no tempo desde os seus tempos de infância, esclarecendo as dúvidas de um, servindo de exemplo para outros.

Quando é que descobriu que era homossexual?
Desde os meus 9 anos que percebi que gostava de meninos. Eu era um rapaz normal, brincava com rapazes, gostava de jogar ao berlinde, de brincar à apanhada, de jogar ao peão, como os outros. Aos 9 anos percebi que gostava muito de um menino em particular. Mas ainda era confuso para mim pois todos os outros meninos gostavam de meninas. Pensei que só quando fosse mais velho iria começar a gostar de raparigas.

Pensou que era diferente?
Nessa idade sim. Perguntavam-me qual era a menina de quem eu gostava, eu escolhia uma qualquer e a coisa ficava por ali. Mas à medida que fui crescendo tornou-se evidente e percebi que toda a minha vida ia gostar de homens. Não restavam dúvidas.

Sofreu bullying?
Não. Eu não contei a ninguém durante todo o tempo de escola. Se me perguntavam se gostava de alguma rapariga dizia que não, que estava focado nos estudos. Não era de todo mentira.

Nunca ninguém desconfiou?
Não. A ideia de que ser homossexual se nota à distância é errada. Sou homem e sinto-me homem. Não me considero efeminado. Tenho gostos típicos de qualquer homem. Confundir a preferência sexual com o género é um erro muito comum.

Considera que a adolescência foi um período difícil?
Há uns anos, sem a ajuda da internet, era fácil uma pessoa isolar-se. Não tinha conhecimento de existir alguém como eu na minha escola, era introvertido e tinha poucos amigos. Durante muito tempo guardei tudo para mim. Sabia que existiam homossexuais, mas isso ainda era visto como um problema, quase uma doença. Nunca contei a ninguém.

Quando é que se assumiu?
Só nos tempos de faculdade. Com a ajuda da internet, comecei a ver as coisas com outros olhos. Já me senti menos sozinho, menos único. E conheci algumas pessoas que partilhavam a mesma preferência que eu. Só isso ajudou muito.

O que o chateia mais em relação aos preconceitos da sociedade?
O cinema, a televisão, e algumas excepções, criaram uma expectativa errada sobre o assunto. Inicialmente o que mais me chateava era a constante pressão para arranjar uma namorada ao mesmo tempo que teciam comentários com conotação negativa sobre o assunto como “não me digas que és maricas”. Existe um medo por parte das pessoas, como se de uma doença contagiosa se tratasse. Depois há os estereótipos de que eu deveria ter muitas amigas, gostar de dançar, de me vestir com roupas justas, ouvi os mais diversos disparates. Sou um homem como outro qualquer.

Mas nem todos são assim certo?
Tal como nem todas as mulheres pintam o cabelo ou gostam de se maquilhar. Nem todos os homens veêm futebol. Cada pessoa tem as suas características e a preferência sexual não molda as restantes.

Já se assumiu aos amigos?
Só os mais próximos. Ainda hoje tenho um círculo de amigos reduzido. Sou reservado e poucos sabem, mas quando entrei numa relação tive de o dizer.

Como reagiram?
Tirando um outro comportamento, em geral reagiram bem. Mas não gosto de expressões como “este é o nosso casal de amigos gay”, “não se preocupem ele tem namorado”. Como se o contrário alguma vez fosse dito, e como se nós andássemos por aí a assediar homens.

Os seus pais como reagiram?
Com alguma desilusão. A minha mãe ficou um pouco triste com a perspectiva de nunca vir a ter netos, apesar de eu nunca ter dito que não queria ter filhos. Mas em geral aceitaram-me. Depois de ouvir algumas histórias, acho que tive sorte.

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